É preciso tensão
- Miriele Alvarenga
- 15 de fev.
- 2 min de leitura

Não se pode negar o conflito e a contradição se quisermos realizar nosso ser. Tudo que acomete a consciência está fadado a ter lados, pontos, faces, constrastes… Na maioria das vezes a gente não só está vendo apenas por uma perspectiva, mas está fixo nela como uma verdade tão absoluta que se torna real para nós. E quando esse lado se fixa e se enrijece nos podemos adoecer de diversas formas.
Jung entendeu que os contrários eram uma das grandes questões da sua teoria e que qualquer um de nós que quisesse se conhecer e entrar no caminho da completude precisaria lidar com isso mais cedo ou mais tarde. Tudo que está iluminado tem um extremo oposto imerso na mais absoluta escuridão e se não pudermos compreender que isso é condição de todos que estão na tridimensionalidade, vamos ficando cada vez mais unilaterias, perdemos o corpo, a materialidade e, como consequência, boa parte da humanidade.
Da tensão entre os opostos é que nasce a transformação.
Jung em uma de suas obras afirma o seguinte:
“…nenhuma energia é produzida onde não houver tensão entre contrários; por isso, é preciso encontrar o oposto da atitude consciente.”
Portanto, muitas vezes, quando nos escapa algo que não conseguimos observar com clareza… podemos buscar na escuridão, ou seja, no inconsciente; onde se escondem monstros desconhecidos e assustadores, mas também tesouros. Porém, essa tensão entre os contrários que Jung considera fundamental para o processo de autoconhecimento requer que esse conteúdo inconsciente venha à consciência, sem o qual não poderemos reconhecê-lo e fazer o processo de integração.
O processo pode ser muito complicado, pois tendemos a resistir bravamente à encarar tudo aquilo que condenamos, e a sombra é feita justamente disso; de tudo aquilo que consideramos inferior, imoral, repulsivo, desagradável, desconhecido e assustador. Mas que também nos constitui.
E quando nos encontramos com esse mostro, quando adentramos a caverna ou quando ele decide sair de seu covil e decidimos encará-lo, aí sim começa um grande conflito. Quando podemos olhar em seus olhos e assumir que temos: inveja, raiva, ganância, luxúria, desonestidade, talentos, potências, capacidades, instintos, crueldade, falsidade, ódio…. Muitas vezes, no duelo com esse monstro o herói precisa morrer. E essa morte simbólica, é o ego reconhecendo sua contra parte, ou seja, o que morre, é apenas uma ilusão do que se acreditava sobre si. Pode ser extremamente doloroso, mas ainda não determina o que somos, porém pode nos tornar mais completos e mais conscientes.
Miriele Alvarenga
/ Psicoterapeuta Junguiana
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